16 de abr. de 2014

Editorial da Cultura de Classe nº 8 - Abril/2014

Brasília 54 anos de exclusão


        Na II Bienal do Livro de Brasília, em 13/04/14, aconteceu um debate sobre Experiências populares de fruição literária. Os poetas convidados foram Sérgio Vaz, do Sarau da Cooperifa, de São Paulo; Isaac Mendes, do Movimento Supernova, de São Sebastião; e TT Catalão, da geração mimeógrafo de Brasília, que foi também presidente do Conselho de Cultura do DF.


     Os poetas falaram sobre a legitimidade das linguagens próprias de cada grupo para exprimir suas emoções. Mas o melhor discurso foi de uma moça do público, moradora de Ceilândia, que é professora em Águas Lindas - GO, a periferia da periferia de Brasília. Cidade onde não há sequer uma biblioteca.

      Sérgio Vaz já havia falado que o povo das quebradas, quando lê uma cena violenta num romance, escuta o estampido do tiro e sente o cheiro do sangue nas páginas. Isaac Mendes falou que a ponte sobre o Lago Paranoá não ajuda a atravessar o abismo social que existe entre São Sebastião e Brasília. E TT Catalão falou das roupas, da linguagem e outras formas usadas para distanciar ricos de pobres. Mas a professora de Águas Lindas foi mais fundo na indignação. Ao falar, respirava a aridez da quebrada onde vivem seus alunos. Falou também de sua dificuldade no curso de doutorado em história. Alguns livros de que necessita custam mais de R$ 300,00.

       Nada disso é por acaso ou exceção. A regra é manter cada classe em seu lugar. As exceções são justamente os pobres que chegam às universidades e mantêm sua indignação e sua opção de classe.

        Brasília é a cidade mais desigual do país e uma das piores do mundo nesse critério. Diante de tanto disparate, Adirley Queiroz fez um longa metragem para perguntar: A cidade é uma só? Foi vencedor do Festival de Tiradentes - MG. Merece ser exibido com destaque no aniversário de Brasília. Mas a cidade oficial não exibe porque é um filme da Ceilândia. Não só fisicamente, mas ideologicamente da Ceilândia, cidade para onde foram removidos os peões que não tinham onde morar. Mesmo depois de construírem uma cidade inteira.

          Por essas e outras, nesse aniversário de Brasília, nossa homenagem é uma negação da negação. Com
todo respeito aos bons poetas do centro, neste mês eles ficam excluídos desta revista para frisar que a periferia é permanente excluída da imagem de Brasília.

          E todas as frases de rodapé são de Sérgio Vaz, poeta da cooperativa da periferia de São Paulo.

Cultura de Classe

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