*Pela passagem do aniversário de Brasília no mês de abril, publicamos essa poesia de Carla Andrade.
O tempo e suas longas tranças
debruçadas em varandas com
vista para os olhos da cidade.
A cidade com seus sentimentos
enclausurados em caixas de concreto,
pés de aço,
jardins de cimento,
estátuas mijadas.
Você tem que ser híbrido,
até seu silêncio deve ser civilizado.
Deixe o que é visceral para
a fotosíntese das plantas.
O que é magistral na sua loucura
para a metamorfose das borboletas.
Nada de mudanças repentinas,
enquanto a cidade e seu relógio analógico
decidem seu destino.
Ande devagar, não olhe para os pássaros.
Quando você assumir uma cor cinzenta
e tiver a idade do ralo, do bueiro,
a cidade respirará
o resto de sua alma.
Vão te chamar de homem,
seus músculos tensos
serão condecorados,
até que você não tenha nem
mais o consolo da beleza
do abismo da tristeza.
Você ficará só com seus olhos de boneca
sentindo em suas feridas o focinho da cidade.
O tempo irá desfazer nossas tranças.
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